Diz Câmara Cascudo* que houve uma confusão dos primeiros historiadores coloniais, em seus trabalhos catequéticos, que escreveram ser Anhangá um espírito do mal. Anhangá é apenas um protetor de animais contra todos que abusam do poder de matá-los, principalmente um animal que amamenta. O infrator corre o risco de ter febre ou pode até ficar louco ao ver Anhangá, que aparece em forma de veado branco com olhos vermelhos em chama.
* Cf. CASCUDO, Luís da Câmara. Geografia dos mitos brasileiros. 2ª ed. São Paulo: Global, 2002, p. 97-8
Cobra Grande, Minhocão, gibóia, sucuriju, monstro aquático. É o próprio rio ou sua gênese. Violenta, arrasta as barcas, é cruel. Sempre faminta, tem aspecto hediondo. Tem olhos de fogo que ilumina a escuridão e assobia alto.
Cf. CASCUDO, Luís da Câmara. Geografia dos mitos brasileiros. 2ª ed. São Paulo: Global, 2002, p. 154 e ss.
Golfinho fluvial, amoroso, único peixe que, curioso, segue barcas. Encarnação do espírito protetor dos peixes. À noite vira homem, fica perfeitamente humano e gosta de cachaça e festas, dança bem. Nunca tira o chapéu para que não lhe vejam orifício por onde respira. É alegre, simpático, cavalheiro. Tem uma sede insaciável. Conquista milhares de mulheres jovens, atraindo-as para o fundo do rio. É o Dom Juan das moças que ignoram o pai do primeiro filho. Não mata sua presa amorosa, mas ignora a prole.
Cf. CASCUDO, Luís da Câmara. Geografia dos mitos brasileiros. 2ª ed. São Paulo: Global, 2002, p. 163 e ss.
Corruptela de Caapora, Caipora é figura pequena e forte, de cabelos agitados, dona da caça, doida por fumo e aguardente. Modernamente, faz comércio amoroso com os homens e exige fidelidde absoluta. Monta um porco do mato e ressucita os animais abatidos. Se vinga de quem persegue as fêmeas grávidas ou com filhotes. Enfrenta caçadores, que fogem espavoridos. As vezes é um macho baixo e forte, que também monta um porco do mato. Se confunde com Curupira.
Texto com partes de pesquisa de internet e parte de Câmara Cascudo, em CASCUDO, Luís da Câmara. Geografia dos mitos brasileiros. 2ª ed. São Paulo: Global, 2002, p. 113 e ss.
Lagarto escuro, esquivo, com diamante na cabeça, de brilho deslumbrante, cheio de poderes. Pedra-talismã, de encanto, de alta magia. Sua luz ofusca e desvia o perseguidor. Com poderes mágicos, e uma espécie de terceiro olho, concede riquezas ou traz infortúnios, a depender do caráter de quem o captura. Guardião de regiões com preciosidades, de tesouros escondidos. Detesta donos de mineradoras e de garimpagem.
Texto com partes de pesquisa de internet e parte de Câmara Cascudo, em CASCUDO, Luís da Câmara. Geografia dos mitos brasileiros. 2ª ed. São Paulo: Global, 2002, p. 281-2
Cruviana ou Caruviana, como grafada em Macunaíma, de Mário de Andrade, é uma mulher que se transforma em vento durante a madruga. Vento sonante. Inicialmente é uma brisa agradável, depois se torna uma úmida friagem. Desaparece ao amanhecer. Encanta os homens que andam sozinhos durante a noite, deita-se com eles, e os prende a terra para sempre.
Cuca é uma bruxa muito feia, velha, enrugada, desgrenhada, que sequestra crianças desobedientes, colocando-as dentro de um saco. É um fantasma noturno. Pertence aos pavores infantis, se assemelha ao bicho-papão. Sua lenda reúne tradições africanas, europeias e ameríndias. Possui muitas formas. Escolhemos a cabeça de jacaré entre tantas que poderia representá-la.
Cf. CASCUDO, Luís da Câmara. Geografia dos mitos brasileiros. 2ª ed. São Paulo: Global, 2002, p. 200 e ss.
É o Deus que protege a floresta. Autoridade suprema nas matas. Duende selvagem. Entre os cronistas coloniais está entre os entes mais temidos entre os povos originários. Espírito do pensamento e da sensualidade. Testa a força das árvores batendo-lhes com o calcanhar ou com o pênis. Um tipo pequeno, de cabelo vermelho e com os pés virados para trás para confundir os que seguem suas pegadas. Conversa com cobra. Assobia. Tem dentes verdes triangulares. (Cf. CASCUDO, Luís da Câmara. Geografia dos mitos brasileiros. 2ª ed. São Paulo: Global, 2002, p. 105 e ss.)
Dizem alguns, que tem pau grande*. Imagino que deve ser do tipo pau-brasil, aquele pau que faz os extratores de madeira (trans)pirarem. Esse pau-brasil maravilhoso foi escolhido para ser o mascote da COP 30 (2025). (* Cf. FREIRE, Paulo. Nuá: As músicas dos mitos brasileiros. CD + livro. S/D, p. 23).
Gigante de um olho só, negro. Tem a boca escancarada e enorme. Seus passos causam abalos sísmicos. Caçador de caçadores. Seu nome vem de gorja, garganta, ou gorjal, protetor de garganta de guerreiros medievais, que se parecia com uma bocona, escancarada, faminta. Ele encontra sua presa, mete-a debaixo do braço e vai comendo-a às dentadas.
Cf. CASCUDO, Luis da Câmara. Geografia dos mitos brasileiros. 2ª ed. São Paulo: Global, 2002, p. 243-4
Branca, de olhos verdes, sedutora, tentadora, com aspecto de sereia. Fascina com seu canto. É uma Ondina. Quem a viu uma vez, não pode esquecê-la. Influência de tradições europeias.
Cf. CASCUDO, Luís da Câmara. Geografia dos mitos brasileiros. 2ª ed. São Paulo: Global, 2002, p. 150 e ss.
Excomungado pelos pais, frágil e pálido, segrega-se da sociedade até que numa noite entre quinta e sexta-feira, à meia noite, vai para uma encruzilhada, tira a roupa e dá sete nós; o corpo cobre-se de pelos, as orelhas crescem, a cara se alonga, as unhas se transformam em garras. Ataca a qualquer um, despedaça-lhe a carótida com uma dentada e suga-lhe o sangue.
Cf. CASCUDO, Luis da Câmara. Geografia dos mitos brasileiros. 2ª ed. São Paulo: Global, 2002, p. 183 e ss.
Homem agigantado, imponente, de olho ciclópico, peludo, mãos em forma de pilão, pés tortos, boca na barriga, com fome inextinguível. Solta berros altos e atordoadores. Só ataca de dia ou no fim de tarde. Gosta de comer e de se lambuzar com homens matadores de animais. É imune a balas e flechas. Ao se mover, deixa rastros de destruição. (Cf. CASCUDO, Luis da Câmara. Geografia dos mitos brasileiros. 2ª ed. São Paulo: Global, 2002, p. 222 e ss.)
O Mapinguary, de um conto indígena de tradição maraguá, deixa pedaços de carnes ou frutos de iscas para caçadores famintos na floresta. Os maraguás acreditam que tal criatura é uma "visaje", ou seja, visagem, fantasma, assombração, que leva o corpo daqueles que se servem da isca deixada. Ao comer essa isca, acabam por se transformar também em Mapinguarys, com corpo enorme, peludo e com a boca no meio do estômago. Uma vez transformados em monstros, não podem mais voltar a suas casas, perdem a consciência humana e passam a trabalhar em defesa da floresta. (Cf. YAMÃ, Yaguarê. Contos da floresta. São Paulo: Ed. Peirópolis Ltda, 2012, p. 27-35)
Uma certa concubina de padre tornou-se a famosa mula-sem-cabeça. Mulher bonita e gentil, transforma-se em mula na passagem de quinta para sexta até que cante o galo. É a punição pela conduta pecaminosa. Furiosa, muito veloz, dá coices e patadas, machuca ou mata quem encontrar pela frente. Não tem cabeça, mas relincha o tempo todo; tem olhos de fogo e um facho luminosos na cauda. Esse nome possivelmente surgiu em decorrência de ser a mula um animal seguro e resistente, preferida para as viagens dos clérigos e, consequentemente, o animal mais próximo dos curas, ou padres.
Cf. CASCUDO, Luis da Câmara. Geografia dos mitos brasileiros. 2ª ed. São Paulo: Global, 2002, p. 191 e ss.
Naiá, em alguma época da colonização, foi chamada pelo colonizador de Vitória Régia. Trata-se daquela planta aquática que pode ter até dois metros de diâmetro.
Conta a lenda que, em tempos antigos, a Lua, que era um deus, ficava, do alto, admirando jovens índias. Essas índias, enfeitiçadas pelo luz do luar, eram transportadas para o alto das nuvens e transformadas em estrelas. Naiá, ao saber dessa história, apaixonou-se perdidamente pela Lua, querendo também virar estrela. Toda noite subia em árvores ou montanhas para se fazer visível ao Deus. Não conseguindo atrair sua atenção, começou a sentir uma tristeza profunda e ficou doente. Por mais que a tribo se empenhasse em curá-la, sua paixão só aumentava. Certa noite, olhando para as águas de um lago, viu ali o reflexo da Lua. Imaginando ter o amado tão perto, jogou-se nas águas e nunca mais voltou. O Deus, agora apaixonado, não quis juntá-la as demais e, de modo diferenciado, transformou-a na estrela das águas, cuja folha enorme recolhe todos os raios da divindade.
Cf. Savaget, Luciana. A estrela d'água. Rio de Janeiro: Singular, 2014 Disponível em: https://e-reader.arvore.com.br/?slug=a-estrela-d-agua Acesso em 17 jan 2025
Homem coxo, cabeludo e que possui uma perna só. Anda pelas estradas, ronda as casas durante à noite; grita como desesperado com gritos que atordoam, desvairam, enlouquecem e se espalham por todas as direções; os caçadores se perdem ao seguirem seus gritos ou quando exploram os rastros de pegadas enormes, verdadeiros buracos redondos feitos como fundos de garrafa. Ele grita e amedontra a todos que não respeitam a fauna e a flora.
Cf. CASCUDO, Luis da Câmara. Geografia dos mitos brasileiros. 2ª ed. São Paulo: Global, 2002, p. 228-32.
Instinto amoroso, o Amor, a ligação. Anima o desejo das mulheres brasileiras.
Guerreiro branco que vivia nas nuvens. EM CONSTRUÇÃO
Há dois sacis. Um é o saci-ave; o outro é o saci-moleque. Aqui vamos tratar desse último tipo, mas quem se aprofunda nas lendas, vai perceber que há uma fusão das características de um e de outro. Das criaturas, certamente é das mais populares, conhecida por todo território brasileiro. E talvez seja a que mais ganhou, no nosso imaginário, uma imagem definida: criatura ágil, que se move na única perna que tem, que veste um gorro vermelho e que fuma cachimbo. Além disso, podemos acrescentar que é travesso, astuto e resiliente. E por fim, assobia.
Descendente de Guarací, o Deus sol na mitografia tupi-guarani, Uirapuru é o Deus dos pássaros. Qualquer pássaro, preparado por um pagé, pode tornar-se Uirapuru, Dizem que possui todas as virtudes de um talismã e é considerado um amuleto poderoso. Pássaro exótico, misterioso e mágico, muito difícil de ser visto ou ouvido. Tem poder de encantamento sobre todos os pássaros e feras da floreta.
Cf. COUTO DE MAGALHÃES apud RABAÇAL, Alfredo João. Influência indígenas no folclore brasileiro. Porto: Imprensa Portuguesa. Biblioteca, p. 23.Biblioteca Digital Curt Nimuendajú - Coleção Nicolai. Disponível em: Google Scholar. Acesso em 17 jan 2025
CF. VOLPE, Maria Alice. Villa-Lobos e o imaginário edênico de Uirapuru. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/236617685 Acesso em 17 jan 2025